A importância da Consulta Pré-concepcional

Um pré-natal bem realizado é fundamental para a segurança da gestação. A maior parte das gestantes são gestantes de baixo risco, ou seja, necessitam apenas monitoramento de suas gestações e poucas intervenções. Entretanto, algumas intervenções podem ser realizadas no período pré-natal, de forma a assegurar uma gestação ainda mais tranquila. Esta consulta chama-se CONSULTA PRÉ-CONCEPCIONAL, e é realizada quando a paciente está se preparando para a gravidez, antes mesmo de estar gestante.

Idealmente, a CONSULTA PRÉ-CONCEPCIONAL faz parte do pré-natal. Nesta consulta, o obstetra pode verificar a presença de fatores de risco modificáveis, por exemplo, baixo peso ou excesso de peso materno. Estas condições podem ser corrigidas antes da gravidez, pois aumentam o risco da mesma. Principalmente, a gestante com obesidade ou sobrepeso, possui maior risco de desenvolver diabetes gestacional, hipertensão, e de ter um bebê macrossômico (grande demais).

Outro fator analisado é o sedentarismo. Não é impossível que gestantes que não praticam atividade física possam iniciar com atividades bem leves durante a gestação. Porém, o mais adequado é que o hábito da prática de exercícios físicos seja desenvolvido antes da gestação, pois a atividade física traz inúmeros benefícios para a gestação.

Na consulta pré-concepcional, podem ser detectadas patologias que necessitam tratamento, como hipertensão arterial sistêmica ou diabetes mellitus. É fundamental que as gestantes que já eram portadoras de hipertensão ou diabetes antes da gravidez estejam em seu melhor controle da doença, para que o bebê possa se formar adequadamente. Também, algumas medicações utilizadas para essas patologias devem ser trocadas por outras, que não prejudiquem o futuro feto.

Deve ser feita uma revisão do esquema vacinal da futura mamãe. É importante que a gestante esteja imune às patologias que podem prejudicar o bebê, principalmente porque algumas vacinas não podem ser realizadas durante a gestação, como a vacina da rubéola e a da varicela, quando for o caso.

Um exame ginecológico completo é realizado, inclusive com coleta do exame preventivo do colo do útero (papanicolau), já que as patologias de mamas e colo de útero são bem tratadas fora da gestação.

Também é nesta consulta em que inicia-se o uso do ácido fólico para a prevenção de defeitos do tubo neural (neurológicos) do bebê, sendo que o ideal é que a paciente esteja usando ácido fólico pelo menos três meses antes de engravidar.

Finalmente, a revisão da história obstétrica prévia da paciente pode contribuir para um melhor planejamento da gestação. Muitas patologias são importantes para o planejamento, principalmente aquelas relacionadas a perdas fetais ou abortos de repetição.

Assim, com um planejamento adequado, a gestante pode seguir seu pré-natal e estará melhor preparada para uma gestação tranquila. Procure seu obstetra ANTES de engravidar! Você estará garantindo uma gestação mais saudável. Porém, caso você tenha sido presenteada com uma gravidez “surpresa”, saiba que quanto antes iniciar o pré-natal, melhor!

O que é Fetoscopia?

A fetoscopia é uma modalidade cirúrgica. Seu objetivo é visualizar o feto no interior da cavidade amniótica. Isso é possível com a utilização da ultrassonografia associada à videolaparoscopia. Este método é muito utilizado para tratar problemas congênitos complexos, que podem complicar o parto ou que podem evoluir rapidamente após o nascimento, levando a significativa incapacidade ou morte.

A Fetoscopia é realizada utilizando-se um endoscópio de fibra óptica, o fetoscópio, que é inserido na cavidade uterina, tanto por via transabdominal (através do abdômen) ou via transcervical (através do colo uterino). O objetivo deste exame é visualizar o feto para obter amostras de tecido, ou realizar uma cirurgia no mesmo.

Algumas das anormalidades congênitas que podem ser tratadas por meio desta técnica incluem:

Transfusão entre gêmeos ou síndrome de transfusão feto-fetal

Quando os gêmeos são idênticos, pode ocorrer troca de sangue entre eles através da placenta que compartilham. Através da fetoscopia, é possível separar as conexões placentárias responsáveis pela troca de sangue.

Feto acárdico

Quando um dos gêmeos monocoriônicos (idênticos) é mal formado, e fica bombeando sangue para o outro, nesta situação existe o risco de sobrecarga cardíaca fetal do gêmeo sem malformações. A fetoscopia pode ser utilizada para fazer cessar essa sobrecarga e salvar o gêmeo saudável.

Brida amniótica

Ocorre quando a membrana que reveste internamente a “bolsa das águas” (membrana amniótica) se rompe no início da gestação, aprisionando um membro ou uma parte do feto. Isso pode levar a deformidades das mãos e pés, estreitamentos e, em casos mais graves, a amputação da parte fetal aprisionada. Nos casos de estreitamento do membro, quando se julga que a amputação é iminente, uma alternativa possível é cortar a membrana responsável pelo estreitamento através da fetoscopia.

Hérnia diafragmática

Quando o diafragma (membrana que separa o tórax do abdome) não se fecha, os intestinos, o estômago e o fígado podem “subir” para o tórax do feto, comprimindo seus pulmões. Isso pode comprometer o desenvolvimento pulmonar, levando a problemas respiratórios no momento do nascimento, e até à morte. A fetoscopia é o procedimento indicado em alguns destes casos, e tem o objetivo de melhorar o desenvolvimento pulmonar, com a colocação de um “balão” na traquéia do feto. A correção definitiva do diafragma será feita somente após o nascimento.

 

Fontes:

http://www.infoescola.com/exames-medicos/fetoscopia/

http://www.einstein.br/hospital/medicina-fetal/Paginas/procedimentos-terapeuticos-cirurgia-fetal.aspx

Diabetes Gestacional

Diabetes gestacional é uma intolerância aos carboidratos adquirida durante a gestação. Durante uma gestação normal os hormônios produzidos pela placenta fazem com que a gestante tenha mais dificuldade em digerir os carboidratos do que uma mulher não grávida. Porém, em algumas gestantes, essa dificuldade de digerir carboidratos pode ser ainda maior, chegando a ser chamada de diabetes gestacional.

Antigamente, o rastreio para o diabetes gestacional era realizado através da glicemia de jejum na primeira consulta de pré natal e, se esta estivesse acima de 85 mg/dl (entre 85-110 mg/dl), era realizado um teste de tolerância por volta das 24 semanas de idade gestacional, após a ingesta de 75g de glicose.Se esse resultado fosse maior que 140 mg/dl, era diagnosticada a diabetes gestacional.

Porém, em 2008 saiu uma meta análise (que é a melhor evidência científica), com mais de 25.000 gestantes, numa revista médica muito bem conceituada (estudo HAPO, no New England Journal of Medicine), que mudou os conceitos sobe diabetes gestacional. Este estudo relacionou os níveis médios de glicemia materna em pacientes sem diabetes com a incidência de desfechos adversos (maus desfechos para a mãe e para o bebê), e concluiu que o aumento da glicemia média aumenta linearmente junto com o aumento de desfechos adversos, sem um ponto de corte específico!

Com isso, as entidades internacionais (o Ministério da Saúde no Brasil ainda não reconhece esse rastreio) passaram a recomendar que o ponto de corte utilizado para diabetes fosse diminuído, de forma a diagnosticar mais pacientes, para prevenir mais desfechos adversos.

Em 2010, A Americam Diabetes Asociation, através da International Association of Diabetes and Pregnancy Study Groups (IADPSG) passou a recomendar o rastreio universal, ou seja, para todas as pacientes, com glicemia de jejum no primeiro trimestre (a partir de 92 mg/dl diagnóstico de diabetes gestacional, mesmo no primeiro trimestre), e teste de tolerância com 75g de glicose para todas as gestantes que não foram diagnosticadas com diabetes gestacional no primeiro trimestre, sendo que o teste de tolerância é de três pontos: jejum, 1h e 2 h após a ingestão de 75 g de glicose. Os limites são 92(jejum), 180 (1h) e 153 (2h).

Converse com seu obstetra!

Fontes bibliográficas: Diabetes Care 2010, 33(3):676-682. N Engl J Med 2008; 358:1991-2002.

Orientações Nutricionais na Gravidez

O estado nutricional da grávida é um dos fatores determinantes da saúde materno-fetal e que pode ser modificado, preferencialmente, antes da gravidez. Quando há um planejamento, é fundamental que a futura gestante atinja seu IMC (índice de massa corporal) alvo antes de engravidar e siga um acompanhamento nutricional durante toda a gestação.

Sabe-se que a restrição calórica excessiva pode aumentar o risco de baixo peso ao nascimento, enquanto os ganhos de peso superiores ao índice de massa corporal (IMC) indicado estão associados a macrossomia fetal e aumento de duas vezes no risco de cesariana.

De uma forma genérica, o ganho de peso médio ideal para uma gestante não obesa é de 12,5 kg. Para uma gestante obesa, o ganho MÁXIMO recomendado é de até 9,1 kg.

A velocidade de ganho de peso para uma gestante no peso ideal é de aproximadamente 400g por semana durante o segundo e terceiro trimestres. Ganho de peso excessivo durante a gestação e manutenção do peso após o parto são fatores predisponentes para obesidade no futuro.

Arbitrariamente recomenda-se um aumento na ingestão de 300 kcal por dia, além dos níveis de ingestão pré-gestacionais. Porém, o ideal é que haja um planejamento e um acompanhamento por um profissional nutricionista desde antes da gravidez, durante toda a gestação e pós parto, até a recuperação do peso adequado.

DIETA VEGETARIANA

A placenta e o feto consomem aproximadamente 1 kg de proteína durante a gestação e a maioria deste consumo ocorre nos últimos 6 meses. Assim, a grávida necessita consumir de 5 a 6 g de proteínas adicionais, por dia. As pacientes vegetarianas devem ter um acompanhamento muito rigoroso, pelo risco de não estarem ingerindo a quantidade adequada de proteínas e risco de deficiência de vitamina B12, que é dificilmente encontrada da dieta vegetariana. A vitamina B12 é importantíssima para o adequado funcionamento do sistema nervoso central e sua falta pode ser responsável pela anemia megaloblástica.

ALIMENTOS CONTAMINADOS COM METILMERCÚRIO

A exposição ao metilmercúrio pela ingestão de peixes contaminados pode prejudicar o desenvolvimento do sistema nervoso central no feto. Por isso, a grávida deve evitar ingerir alimentos à base de tubarão, peixe-espada e cavala. Crustáceos, salmão, linguado, atum e bacalhau devem ter uma ingestão limitada a 340 mg/ semana, peixes cozidos de água doce, 170 mg/semana e o consumo de atum deve ser limitado a 120 mg/ semana.

GESTANTES QUE NÃO SÃO IMUNES À TOXOPLASMOSE

Devem evitar carnes mal-passadas, frutas e verduras mal-lavadas, contato com fezes de animais felinos e contato desprotegido com solo/hortas.

INGESTÃO DE CAFÉ

A ingestão de cafeína e café durante a gestação aumenta o risco de aborto quando o consumo é maior que 150 mg de cafeína ou duas xícaras de café ao dia. Quanto maior a ingestão, maior é o risco.

SUPLEMENTAÇÃO VITAMÍNICA

A necessidade de ferro encontra-se aumentada durante a gravidez e os sais de ferro provenientes da dieta passam a ser insuficientes após as 20 semanas de gestação, para a maioria das gestantes. Por isso, recomenda-se a suplementação com 60 mg de ferro elementar ou 300 mg de sulfato ferroso ao dia, a partir da segunda metade da gestação. Também há aumento das necessidades de ácido fólico, que deve ser suplementado durante toda a gestação. A recomendação é 400 ug/dia de ácido fólico desde 3 meses antes da gravidez até o segundo mês (para prevenção de defeitos de fechamento do tubo neural) e durante o resto da gestação, com 300 ug/dia. Para as grávidas que já tiveram história de defeito de fechamento do tubo neural (anencefalia, espinha bífida) em outra gestação, a recomendação é 4 mg/dia nos primeiros meses.

A vitamina A em excesso é teratogênica e, portanto, não deve ser ingerida em suplementos.

As gestantes que não ingerem cálcio devem ser suplementadas em 600 mg/dia. Discute-se também se as gestantes com risco aumentado para pré-eclâmpsia (veja postagem “Você sabe o que é pré-eclampsia?”) devam ser suplementadas com cálcio também.

A vitamina B6 é indicada naquelas gestantes com nutrição inadequada (usuárias de drogas, adolescentes e nos casos de gestação múltipla).

As necessidades de vitamina C estão aumentadas, mas as mesmas podem ser compensadas pela dieta.

Como já falado, as gestantes vegetarianas podem necessitar de suplementação de vitamina B12 e vitamina D.

Enfim, são muitas as alterações de necessidades nutricionais na gestação, e a nutrição da gestante vai muito além do controle de ganho de peso. Por isso, é fundamental que o obstetra e o nutricionista atuem conjuntamente! Converse com seu obstetra e procure um nutricionista!

Referências bibliográficas: Zugaib, Obstetrícia 2008; Myers GJ, Davidson PW, Cox C, et al. Pré-natal methylmercury exposure from ocean fish consumption in the Seychelles Child Development Study. Lancet 2003.; Leketsos C. Should pregnant women avoid eating fish? Lessons from the Seychelles. Lances, 2003; Jahanfar S, et al. Effects of restricted caffein intake by mother on fetal, neonatal and pregnancy outcomes. Cochrane Database Syst Rev. 2015.

OBSTETRÍCIA BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Gestantes, mães, pais, colegas e interessados! Este espaço foi criado com o objetivo de compartilhar informações, dúvidas, dicas e assuntos de interesse da obstetrícia, com um enfoque científico.

Durante muito tempo a medicina foi realizada com base na experiência clínica dos práticos e médicos. Com o passar dos anos, as experiências foram se acumulando, e, registradas, repetidas, testadas, transformaram-se em conhecimento científico. Hoje essa é a forma como a medicina é exercida: baseada em evidências científicas. Se alguma conduta é tomada ou deixada de ser usada, é porque existem estudos comprovando.

Vamos juntos compartilhar evidências científicas, afinal, a gestação é um assunto de interesse coletivo!

Mandem ideias, dúvidas, opiniões e sintam-se em casa!!!

EXAMES DE INDICAÇÃO UNIVERSAL EM MEDICINA FETAL

Existem exames que estão indicados a todas as pacientes gestantes, independente da existência de risco na gestação ou não.

O primeiro, senão o mais importante, é o ultrassom morfológico do primeiro trimestre. Este é um exame que deve ser realizado entre as idades gestacionais de 11 semanas e 13 semana e 6 dias, e deve ser realizado exclusivamente por um profissional capacitado pela Fetal Medicine Foundation, por ser um exame que necessita de rigoroso padrão técnico e treinamento específico. Nele, é avaliada a morfologia do bebê (a formação dos órgãos e membros) e é possível fazer o diagnóstico de diversas patologias, algumas delas que podem ser tratadas dentro do útero, como hérnia diafragmática congênita e espinha bífida. Além disso, é possível fazer o diagnóstico de anencefalia, que é uma condição letal e que tem autorização para interrupção da gravidez, se assim desejado pela gestante. Faz parte do exame também o cálculo de risco para anomalias genéticas e o cálculo de risco para pré-eclâmpsia, através de um programa vinculado à Fetal Medicine Foudation. O cálculo de risco para parto prematuro no primeiro trimestre está sendo validado por evidências científicas ainda, mas já faz parte do programa também.

O segundo exame de indicação universal importante na gravidez é o exame morfológico do segundo trimestre, de 22-24 semanas. Mais conhecido de todos, avalia a formação do bebê (órgãos e membros) e faz uma triagem para risco aumentado de trabalho de parto prematuro, através da medida do colo uterino pela via transvaginal, que faz parte do exame.

Apesar de o exame do segundo trimestre ser o mais difundido, é no primeiro trimestre que se consegue fazer intervenções que mudam os riscos da gestação, e por isso esse exame é tão importante. Por exemplo, o uso de AAS em pacientes com risco aumentado para pré-eclâmpsia grave, diminui a incidência da doença em até oitenta por cento!!! Converse com seu obstetra sobre o exame morfológico do primeiro trimestre e procure um profissional certificado pela Fetal Medicine Foundation para realizar seu exame.